segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Curtis Mayfield - Superfly (1972)

1972, o movimento pelos direitos civis dos negros norte-americanos já era notícia velha, da década anterior, o black power já estava consolidado. O que não quer dizer que a vida dos african americans tenha melhorado muito. 1972, o entusiasmo hippie pelas drogas alteradoras de consciência já estava na fase da ressaca, e a criminalidade relacionado ao tráfico de drogas nas grandes cidades dos EUA crescia. 1972, um novo sugênero cinematográfico, o BLAXPLOITATION, filmes com temática violenta e personagens do submundo negro, começava a fazer sucesso.

Todos esses fatores levaram à criação desta obra-prima da black music. Curtis Mayfield, veterano soulman identificado com o movimento dos direitos civis, autor de pedradas como People Get Ready e Move on Up, foi chamado pelo diretor Gordon Parks Jr. para fazer a trilha sonora de um filme sobre um traficante de cocaína que começa a refletir que o caminho que segue vai levá-lo ou à cadeia ou ao cemitério em pouco tempo.

E Mayfield fez uma das melhores trilhas sonoras da história, responsável por colocar esse filme nas enciclopédias de história do cinema como principal representante do Blaxplotation. As músicas, de uma pegada groove-hipnótica insana, contam as histórias do filme sem apelar para o paternalismo ou glorificação da criminalidade, tampouco ao moralismo barato. Pusherman mostra o traficante como um homem de negócios como outro qualquer, Little Child Runnin' Wild mostra o sofrimento das crianças dos guetos negros, Freddie's Dead, que foi sampleada pelos Racionais MC's em Mano na Porta do Bar, narra a morte do trafica boa-praça Freddie e a indiferença dos à sua volta, e a faixa-título é um verdadeiro clássico 70's.

Enfim, funk groove soul urbano da melhor qualidade

01 - Little Child Runnin' Wild
02 - Pusherman
03 - Freddie's Dead
04 - Junkie Chase
05 - Give Me Your Love (Love Theme)
06 - Eddie You Should Know Better
07 - No Thing On Me (Cocaine Song)
08 - Think
09 - Superfly

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Louis Armostrong - The Complete Hot Five and Hot Seven Recordings

Rapaz, esse negócio de fazer blog de música vicia. Aliás, música vicia. Música é bom demais. Então devemos sempre prestar homenagem aos grandes mestres desta nobre arte. E este belo e elegante rapaz negro posando pra foto aí em cima é um dos maiores entre os maiores. Louis Daniel Armostrong foi um dos criadores e talvez o maior embaixador do estilo de música que chamamos de JAZZ.

Louis nasceu na aurora do século XX, e não poderia ter nascido em outro lugar que não Nova Orleans. Ele sempre afirmou ter nascido em 4 de julho de 1900, data emblemática até demais, tanto que historiadores comprovaram que sua verdadeira data de nascimento é 4 de agosto de 1900. Neto de escravos, veio ao mundo numa família paupérrima. O pai se mandou pouco depois de seu nascimento, a sua mãe teve que se virar, vindo até a se prostituir. Louis viveu boa parte da infância com a avó, num dos bairros mais pobres de Nova Orleans. Começou a trabalhar com cinco anos, fazendo bicos como entregador de jornais e recolhendo comida descartada pelos restaurantes. Mas não deixou de ir à escola, e foi lá que entrou em contato com a música "creole" de Nova Orleans. Trabalhou também vendendo carvão nas ruas da histórica zona de meretrício de Storyville, nas docas da cidade. Os cabarés e casas de shows de Storyville foram o local de nascimento do jazz, e desde moleque Louis via os grandes músicos da época, como os lendários Joe "King" Oliver e Kid Ory, se apresentando.

Com onze anos aprendeu, de ouvido, a tocar corneta com King Oliver. Trabalhou na casa de uma família judia que tinha um comércio de ferro-velho e o tratava como filho. Louis sempre mencionou a gratidão à família Karnofsky, e usou um pingente com a Estrela de Davi até sua morte. Foi internado diversas vezes em um reformatório por delinquência na adolescência, e foi na banda do reformatório que desenvolveu sua natural habilidade com a corneta. Logo virou o líder da banda, que se apresentava regularmente nas ruas de Nova Orleans. E, rapidamente chamou a atenção dos músicos locais. Foi solto do reformatório aos 14 anos e começou a trabalhar em um cabaré de Storyville, carregando carvão de dia e tocando corneta a noite.

Também tocava frequentemente nas tradicionalíssimas bandas de rua de Nova Orleans, e escutava os grande músicos da época sempre que podia. King Oliver virou seu mentor. Começou a excursionar com a banda de Fate Marable, que tocava em um dos famosos barcos a vapor que subiam e desciam o Rio Mississipi. Ele considerava essa época tocando no Mississipi como sua "Universidade". Em 1918 King Oliver partiu rumo ao norte dos Estados Unidos, e Louis ficou com seu lugar como trompetista da banda liderada por Kid Ory. Continuou se apresentando nos barcos a vapor, e amadureceu seu talento nato, aprendendo a ler as partituras. Em 1922 aceitou o convite de Oliver e partir para Chicago, como milhões de negros norte-americanos que nos anos 20 migraram da pobreza do sul para trabalhar na pujante indústria do norte dos EUA.

A banda de King Oliver era a mais famosa banda de Jazz de Chicago, e Chicago era o centro do jazz nos Estados Unidos, com Nova York em segundo lugar. Pela primeira vez Louis viveu com conforto, morando num belo apartamento e tocando em locais refinados. Realizou suas primeiras gravações nos selos Okeh e Gannett, quando os discos de jazz começavam a circular pelo país. Mas logo saiu da banda de Oliver, atendendo os anseios de sua esposa, a pianista Lil Harding Armstrong, que ansiava para que marido tivesse mais destaque. Foi para Nova York e tocou em diversas bandas importantes, como a de Fletcher Henderson, a principal banda só de negros da época. Marido e mulher tocavam também peças clássicas nas Igrejas para desenvolver ainda mais seus dotes musicais. Ainda acompanhou cantoras de blues como a lendária Bessie Smith.

Em 1925 retornou para Chicago, desta vez para ser líder de banda, e foi neste ano que começou a gravar as históricas sessões com o grupo Hot Five, formado para acompanhá-lo. Os Hot Five tinham a esposa Lil no piano, o velho companheiro Kid Ory no Trombone, Johnny Dodds no clarinete e Johnny St. Cyr no banjo. Armstrong era o líder, mas era um chefe tão legal que os outros músicos se sentiam totalmente a vontade. Em 1925 gravaram clássicos absolutos como "Potato Head Blues", "West End Blues", "Cornet Chop Suey" e "Muggles", apelido para a maconha, erva da qual o bom e velho Louis era grande apreciador. "Em "Heebie Jeebies", Louis com todo seu talento para a improvisação inventava o "scat singing" tornando para sempre famosa sua voz inconfundível. Para as sessões com o Hot Seven entraram o baterista Baby Dodds, irmão de Johhny, e Pete Briggs na tuba. Os compactos de 78 rotações que resultaram dessas gravações históricas fizeram enorme sucesso e tornaram Louis Armostrong o mais famoso jazzista de todos os tempos. E o resto é História...

Bem, já falei demais. O fato é que todas as músicas gravadas na época, inclusive em versões alternativas, foram reunidas num verdadeiro trabalho arqueológico em coleções particulares e nas coleções do Instituto Smithsonian, digitalizadas dos originais de 78 RPM e remasterizadas, e aparecem nesta box-set com quatro CDs, e vocês podem pegar tudo aqui! Vai lá que o negócio é fino.

Louis Armostrong. The Complete Hot Five and Hot Five Recordings

Track Listing (Disc 1): Gut Bucket Blues; My Heart; Yes I'm In The Barrel; Come Back Sweet Papa; Georgia Grind; Heebie Jeebies; Cornet Chop Suey; Oriental Strut; Your Next; Muskrat Ramble; Don't Forget To Mess Around; I'm Gonna Gitcha; Droppin' Shucks; Who'zit; King Of The Zulus; Big Fat Mama And Skinny Pa; Lonesome Blues; Sweet Little Papa; Jazz Lips; Skid-Dat-De-Dat; Sunset Cafetomp; You Made Me Love You; Irish Black Bottom. (Total Time: 68:35).

Track Listing (Disc 2): Put'em Down Blues; Ory's Creole Trombone; The Last Time; Struttin' With Some Barbecue; Got No Blues; Once In Awhile; I'm Not Rough; Hotter Than That; Savoy Blues; He Likes It Slow; Gambler's Dream; Sunshine Baby; Adam And Eve Had The Blues; Put It Where I Can Get It; Wash Woman Blues; I've Stopped My Man; Georgia Bo Bo; Drop That Sack; Drop That Sack; Cornet Chop Suey. (Total Time: 61:27).

Track Listing (Disc 3): Willie The Weeper; Wild Man Blues; Alligator Crawl; Potato Head Blues; Melancholy Blues; Weary Blues; Gully Low Blues; That's When I'll Come Back To You; Chicago Breakdown; Weary Blues; New Orleans Stomp; Wild Man Blues; Wild man Blues; Melancholy Blues; Melancholy Blues; You're A Real Sweetheart; Too Busy; Was It A Dream; Last Night I Dreamed I Kissed You. (Total Time: 68:20).

Track Listing (Disc 4): Fireworks; Skip The Gutter; A Monday Date; Don't Jive Me; West End Blues; Sugar Foot Strut; Two Deuces; Squeeze Me; Knee Drops; No (No, Papa, No); Basin Street Blues; No One Else But You; Beau Koo Jack; Save It, Pretty Mama; Muggles; Hear Me Talking To You; St. James Infirmary; Tight Like This. (Total Time: 73:53).

Ouveaê!!!
Senha pra descompactar o arquivo: flipyourwig

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Jackson do Pandeiro - Sua Majestade - O Rei do Ritmo (1960)

Depois de uma leva de posts de discos gringos, nada mais justo que colocar aqui um disco emblemático de um dos maiores e mais influentes músicos da História da Música Popular Brasileira.

José Gomes Filho nasceu na pequena cidade de Alagoa Grande, interior da Paraíba, em 31 de agosto de 1919, em uma família de artistas populares. Sua mãe, Flora Mourão, era cantora e folclorista de Pastoril. Ganhou o apelido de Jack, e depois Jackson, ainda menino, por sua semelhança com um ator de filmes mudos de faroeste que eram sucesso no cinema da cidade. Começou a tocar zabumba acompanhando a mãe nas tradicionais feiras que percorriam o interior do nordeste, mas logo sua perícia com o pandeiro lhe rendeu o sobrenome artístico. Além de instrumentista e ritmista, Jackson compunha e cantava, com uma voz inconfúndivel.

O grande mérito de Jackson do Pandeiro foi conseguir traduzir toda a riqueza dos ritmos típicos nordestinos, do Forró ao Samba de Coco, para o grande público do resto do Brasil, a partir de 1953, quando se apresentou pela primeira vez no rádio. Nisso rivaliza com o grande Luiz Gonzaga o posto de principal divulgador do forró, mas muitos afirmam que enquanto Gonzagão apenas divulgou os ritmos que já conhecia, Jackson era um criador, expandindo os limites dos ritmos nordestinos.

Jackson se fixou no Rio de Janeiro, foi contratado pela então toda-poderosa Rádio Nacional e gravou diversos compactos. Boa parte de seus sucessos, como a lindíssima "Canto da Ema", cantada por Gilberto Gil em Expresso 2222, "Sebastiana", "Forró em Caruaru" "1X1", "Coco de Improviso" e a impagável "Xote de Copacabana", foram reunidas neste LP lançado em 1960 pela gravadora Copacabana Discos. Dos grandes sucessos do Rei do Ritmo só ficou de fora a clássica "Chiclete com Banana", onde o Bebop entrava na misturada de Jackson do Pandeiro. Mas pra vocês não ficarem tristes, vai também um vídeo do mestre explicando a origem do apelido e mandando Chiclete com Banana ao vivo.


e depois do aperitivo, segue o prato principal:

Jackson do Pandeiro - Sua Majestade - O Rei do Ritmo (1960)

01 - Forró em Caruaru
02 - Cabo Tenório
03 - O Canto da Ema
04 - Sebastiana
05 - Cremilda
06 - Coco de Improviso
07 - Xote de Copacabana
08 - A Mulher do Aníbal
09 - 1X1
10 - Coco Social
11 - Falsa Patroa
12 - O Crime Não Compensa

sábado, 2 de janeiro de 2010

Mission of Burma


Feliz ano novo, fiéis ouvintes do Ouveaê! Para começar 2010 com o pé-direito, vou postar os dois discos clássicos dessa excelente banda de Boston, Massachussets, formada no longínquo ano de 1979, no bojo da revolução punk. Como os já aqui citados Television, o Mission of Burma tinha a atitude punk, mas não acreditava nesse negócio de que pra ser punk tem que tocar mal. Assim, com suas músicas ao mesmo tempo barulhentas e ricas em melodia, o Mission é creditado como uma das principais bandas do post-punk e um dos pais do Indie Rock norteamericano.

A sonoridade do Mission of Burma estava centrada na guitarra feroz de Roger Miller, amparada no baixo de Clint Conley e a bateria de Peter Prescott. Influenciados por gente como The Stooges e Velvet Underground, o Mission definitavemente não era uma banda Punk qualquer. Contribuía para isso o fato deles gravarem num dos melhores estúdios de Boston, longe da tosqueira típica das gravações de bandas punks.

Em 1981 lançaram o sensacional single Academy Fight Song, e logo depois o primeiro EP, Signals, Calls and Marches.

Mission of Burma - Signals, Calls and Marches (1981)


A faixa de abertura, 'Academy Fight Song', não estava incluída originalmente no EP, pois foi lançada como single. Mas nessa reedição não podia faltar, e é seguida da também ótima 'Max Ernst'. Outros destaques são a clássica 'That's When I Reach for My Revolver' e 'This is Not a Photograph'. Em comum as letras com referências artísticas e filosóficas, os vocais meio declamatórios, as inusitadas quebras no tempo das músicas e o ritmo alucinado.

01 - Academy Fight Song
02 - Max Ernst
03 - Devotion
04 - Execution
05 - That's When I Reach For My Revolver
06 - Outlaw
07 - Fame And Fortune
08 - This Is Not a Photograph
09 - Red
10 - All World Cowboy Romance


Logo depois os Missions lançaram o primeiro (que seria seu único) álbum:

Mission of Burma - Vs. (1982)


Vs. é estranhamente menos pop e mais experimental que Signals, Calls and Marches, com menos riffs e refrões pegajosos, mas é uma bela coleção de caos sonoro, com destaque para a porrada 'That's How I Escaped my certain Fate' e as ótimas 'Einstein's Day' e 'The Ballad of Johnny Burma'.

01 - Secrets
02 - Trains
03 - Trem Two
04 - New Nails
05 - Dead Pool
06 - Learn How
07 - Mica
08 - Wheaterbox
09 - The Ballad of Johnny Burma
10- Einstein's Day
11 - Fun World
12 - That's How I Escaped My Certain Fate
13 - Laugh The World Away
14 - Forget
15 - Progress
16 - OK No Way


A banda acabaria logo depois, por um motivo deveras pitoresco. AS apresentações ao vivo do Mission eram conhecidas por ser das mais barulhentas possíveis. Isso fez com que o guitarrista Roger Miller começasse a perder a audição. Assim, antes de ficar surdo de vez ele pediu pra sair, e a banda sem ele não fazia sentido. Uma amostra da porradaria ao vivo do Mission pode ser sentida no disco ao vivo 'The Horrible Truth About Burma', lançado em 1985, com músicas da turnê de despedida.

Mission of Burma - The Horrible Truth About Burma (1985)



A banda inesperadamente voltou a se reunir em 2002, e em 2004 lançaram um novo disco, bem bom aliás, OnOffOn, e desde então tem excursionado e lançou mais dois discos. Mas não achei o link dos novos discos, então quem se interessar, se vira! heheheh...