quarta-feira, 31 de março de 2010
Fania All Stars - Live at the Yankee Stadium (1976)
Fania All Stars é um ensemble de músicos criado pela Fania Records, tradicionalíssima gravadora de salsa que reuniu por décadas os melhores salseros do mundo. A banda era formada pelo lendário cantor porto-riquenho Héctor Lavoe (“El Cantante de los Cantantes”), o trombonista Willie Colón, o percursionista e maestro Tito Puente, a cantora cubana Celia Cruz, Rubén Blades (o poeta da salsa), Cheo Feliciano, Bobby Vantentín, o guitarrista mexicano Jorge Santana (irmão menor da fera) entre outros, comandados pelo maestro dominicano Johnny Pacheco. A maioria dos músicos da banda fizeram sucesso depois com carreiras solo e ganharam vários Grammys de música latina.
O grupo foi criado nos anos 60 e teve seu auge nos anos 70. Além de terem revolucionado a salsa (um estilo musical recente, que só começou a ser chamado assim na época da Fania), os músicos da banda formavam uma turminha da pesada. Uma das canções chama-se "Lluvia y nieve", uma alusão ao combustível das baladas que eles faziam - respectivamente, álcool e cocaína. Héctor Lavoe foi um dos que se deram mal nessa história: viciado em heroína, entrou em depressão, tentou se matar, ficou paraplégico e pegou AIDS. Saravá.
A crème de la crème da banda é sem dúvida a performance ao vivo. Eles lotaram lotaram locais como o Cheetah Lounge e o Yankee Stadium em Nova York, além de mega shows no Teatro Carlos Marx em Cuba e em Porto Rico. Também participaram do festival de música de Kinshasha, no Zaire, que antecedeu à lendária luta de Muhammed Ali e George Foreman (tudo devidamente documentado no filme "Soulpower").
Aos não iniciados na salsa, recomenda-se beliscar este vídeo, gravado no Zaire, como aperitivo...
Aos que gostaram e querem mais, aí vai o álbum gravado ao vivo durante o show no Yankee Stadium, very very good! Ou como dizem os próprios, "echale semilla a la maraca pa' que suene"!
Ouveae1!
Ouveae2!
sexta-feira, 12 de março de 2010
Ave Sangria - Ave Sangria (1974)
A banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes, a Ave Sangria era conhecida como os Stones do Nordeste.
Primeiramente chamada de Tamarineira Village, a banda faz um som psicodélico que me lembra muito o Secos & Molhados, principalmente pelas variaçoes entre as musicas, que partem de um sambinha "suspeito" (Seu Waldir) e culminam em fritaçoes como Tres Margaridas, com uso de vocais androginos, oscilaçoes de frequencia e guitarra elétrica que batem forte na cabeça.
Pra se ter uma idéia dos tipos que compunham a banda, cito aqui um "causo" que ganhou fama, quando Rafles, um dos integrantes do Ave Sangria, enviou pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.
Foi o mesmo figura quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo, logo depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova.
O disco em questao viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: "Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampeão", relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração da banda. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.
Mesmo pouco divulgado, o disco conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns Estados do Nordeste. Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. "Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não... Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim..." Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop. Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. No fim das contas, o Departamento de Censura da Polícia Federal acabou proibindo o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional.
O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. Nao por coincidencia, como um dos fatores que levaram ao fim os Novos Baianos, os caras tinham a grana curta, alguns ja com filhos, e nao conseguiam levar a vida como banda, que faz o seu ultimo show em dezembro de 74, mas que ainda hoje é ouvida e eu tenho o prazer de lhes apresentar.
Faixas:
01. Dois Navegantes
02. Lá Fora
03. Três Margaridas
04. O Pirata
05. Momento na Praça
06. Cidade Grande
07. Seu Waldir
08. Hei! Man
09. Por Que?
10. Corpo em Chamas
11. Geórgia, a Carniceira
12. Sob o Sol de Satã
Ouveaê!
terça-feira, 9 de março de 2010
Rashaan Roland Kirk - Rip, Rig and Panic (1965)
Outro discasso apresentado pelo mestre Brunoise, essa pepita de Rashaan Roland Kirk é descrito por alguns como o "Punk-jazz" da época. O saxofonista Roland Kirk, que depois acrescentou o Rashaan ao nome, é uma das figuras mais malucas da história do jazz. Ficou cego aos dois anos de idade, e como muitos outros deficientes visuais, desenvolveu extremo talento musical. Uma de suas marcas registradas é tocar dois saxofones ao mesmo tempo (!), além de criar seus próprios instrumentos. Mas além das excentricidades, Kirk é conhecido pelo completo domínio da técnica e pela inesgotável capacidade de improvisação no instrumento. Neste disco de 1965 ele entrega uma performance altamente energética, respaldado por um quarteto que quebra tudo na parte rítmica, graças em grande parte ao baterista Elvin Jones. Os solos altamente improvisados de Kirk se encarregam de acabar de quebrar tudo. Portanto, em uma palavra,QUEBRADEIRA!
Rashaan Roland Kirk - Rip, Rig and Panic (1965)
1. No Tonic Press
2. Once in a While
3. From Bechet, Byas, And Fats
4. Mystical Dreams
5. Rip, Rig and Panic
6. Black Diamonds
7. Slippery, Hippery, Flippery
Ouveaê!
terça-feira, 2 de março de 2010
Ez3kiel - Versus Tour (2004)
Se você prestar atenção na música que dá nome ao disco vai sentir a mistura entre as imagens e o som propostas pelo trio francês: cada nome que é cantado estimula uma reação no ouvinte, mesmo que seja algo distante de nossas realidades. O disco continua assim, ao vivo, fazendo uma bela cama para o final apoteótico e arrepiante com Requiem.
Ez3kiel - Versus Tour (2004)
1- Versus
2- How do you sleep
3- Phantom Land
4- Via Live
5- Handle
6- Barb4ry
7- Strange Days
8- Lac des Signes
9- 3 Rue Monplaisir
10- Sûrement
11- Jah´s Hardcore
12- Requiem
ouveaê!
segunda-feira, 1 de março de 2010
Miles Davis - In a Silent Way (1969)
A segunda-feira nublada, fria e garoenta em São Paulo pede um disco com esse clima melancólico e ao mesmo tempo etéreo. Em 1969 Miles Davis já tinha revolucionado o jazz mais de uma vez. Já havia ajudado a criar o Cool Jazz, o Jazz Modal, o Hard Bop e neste álbum cujo título diz tudo, ele começa o que talvez seja sua maior revolução: o Fusion.
1969 foi o ano de Woodstock, e Davis estava na época fascinado pela música de Jimi Hendrix. A influência de Hendrix seria mais sentida no disco seguinte, o também revolucionário Bitches Brew. Neste In a Silent Way, Miles se juntou com mais sete jovens músicos, se afastando do seu clássico quinteto que fez, entre outros, Kind of Blue.
Entre estes jovens músicos estavam os pianistas/tecladistas Herbie Hancock, Chick Correa e Joe Zawinul, o saxofonista Wayne Shorter e o guitarrista John McLaughlin. Das sessões gravados com esse octeto surgiu, através da parceria de Miles com o produtor Teo Macero, álbum. Os dois fizeram uma verdadeira alquimia de estúdio para gerar as duas longas sessões de improvisação quase telepática que geraram as duas faixas, um de cada lado do disco: Shhh/Peaceful e In a Silent Way/It's About That Time. É free-jazz, no sentido que se desprende quase totalmente da estrutura clássica do jazz, e é também o prenúncio do Fusion.
Se a música só faz sentido em contraste com o silêncio, esse disco silencioso é um dos sons mais transcendentes e etéreos (dá-lhe adjetivos chapados) já produzidos. Uma viagem que combina como poucas com o clima nublado.
Miles Davis - In a Silent Way (1969)
01 - Shhh/Peaceful
02 - In a Silent Way/It's About That Time
Ouveaê!
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