Música pode ser realmente algo perigoso para a juventude, assim como as DORGAS E O SÉQUIÇO, mas é aquela coisa, se as pessoas vão atrás de barulho, satanismo, alucinações, fuga da REALIDADE, sensações sensoriais distorcidas, bem, há algum motivo anterior a isso. No final da década de 60 o baguio tava explodindo forte, mas na cinzenta cidade industrial de BIRMINHAM, no norte da Inglaterra, o FLOWER POWER não tinha muita vez. Então os caras mais zoados e fodidos da cidade, que tocavam blues sujo e pesado muito bem, resolveram formar uma banda e colocar o mais zoado deles, um moleque pobre com seis irmãos que ia mal na escola e tomava porrada dos alunos e dos colegas, chamado Ozzy Osbourne nos vocais.
"Nossa música é uma reação a toda essa babaquice de paz, amor e felicidade. Os hippies ficam tentando te convencer de que o mundo é uma maravilha, mas é só olhar ao redor para ver em que merda nós estamos." (Ozzy Osbourne, circa 1969)
e assim esses caras inventaram o HEAVY METAL DO DÊMO um dos fenômenos culturais mais significativos da segunda metade do século 20. A regra: pegar uma base sólida do mais from hell dos blues, e tocar o mais pesado possível, mas com grande refinamento harmônico e melódico.Colocar letras "tapa na cara da sociedade" louvando a maconha, falando sobre bruzaria, organizações secretas, ocultismo, guerra, ficção científica distópia e DEMÊNCIA em geral. E os vocais inimitáveis de Ozzy as cantando.
assim eles lançaram o primeiro álbum, autoinitulado, em 1970, prenunciando o fim dos sonhs ensolarados hippies e uma década mais nublada:
Black Sabbath - Black Sabbath (1970)
A capa já entrega a pegada SINISTRA desse álbum que abre com efeitos sonoros fantasmagóricos de chuva e sinos e despeja um som que nunca tinha sido ouvido antes, que chocou os ouvidos sensíveis da época. A primeira faixa é quase um MANIFESTO do que esses caras queriam. E na sequência vem The Wizard. Depois disso, o mundo do rock nunca mais seria o mesmo.
01 - Black Sabbath
02 - The Wizard
03 - Wasp/Behind the Wall of Sleep/Bassicaly/N.I.B.
04 - Wicket World
05 - A Bit of Finger/Sleeping Village/Warning
06 - Evil Woman (Bonus Track)
mas talvez a obra prima deles seja mesmo o imortal PARANOID, lançado logo depois
Black Sabbath - Paranoid (1970)
Mais uma vez a capa é sinishtra, e centro a música pega os elementos do primeiro disco e vai além. o que é esse lado A, que abre com WAR PIGS, segue com Paranoid, Planet Caravan e Iron Man?! Só se pode imaginar o impacto que esse som teve na época. E fecha ainda com Fairies Wear Boots!
01 - War Pigs
02 - Paranoid
03 - Planet Caravan
04 - Iron Man
05 - Electric Funeral
06 - Hand of Doom
07 - Rat Salad
08 - Jack the Stripper/Fairies Weat Boots
já em 71, saiu o terceiro, também um petardo:
Black Sabbath - Master of Reality (1971)
Esse abre com a ODE à cannabis sativa Sweet Leaf. Mas na época, cheios da grana que ganharam com Paranoid, eles estavam usando tóxicos mais pesados, inclusive cocaína. Além dessa e de Children of the Grave, o disco tinha algumas músicas mais acústicas, mas ainda assim era demais para as sensibilidades musicais da época (e olha que em 1971 já existia Led Zeppelin, Deep Purple, Stooges, MC5 e outras bandas bem pesadas, mas o Black Sabbath estava além)
01 - Sweet Leaf
02 - After Forever
03 - Embryo
04 - Children of the Grave
05 - Orchid
06 - Lord of this World
07 - Solitude
08 - Into the Void
Em homenagem ao valoroso Estado do PERNAMBUCO que representou nessas eleições, e ao povo nordestino de todos os estados (inclusive os milhões que por acaso vivem em São Paulo), é apropriado que esta #musicmonday tenha os grande herois do rock pauduro que conversa com a riqueza imensurável da música regional pernambucana. O grupo de Fred 04 e seus asseclas, com a coletânea que mostra bem um panorama da um tanto errática mas sempre excelente carreira do MUNDO LIVRE S/A, representando direto de Manguetown, Hellcife. #orgulhodesernordestino Viva a integração cultural, viva a cultura livre, viva o mundo livre, abaixo os muros e grades do condomínio!
Mundo Livre S/A - Combat Samba - E Se a Gente Sequestrasse o Trem das Onze? (2008)
01 - O Mistério do Samba
02 - Édipo, O Homem Que Virou Veículo
03 - Livre Iniciativa
04 - Muito Obrigado
05 - Seu Suor é o Melhor de Você
06 - A Expressão Exata
07 - Terra Escura
08 - Saldo de Aratú
09 - Meu Esquema
10 - Musa da Ilha Grande
11 - E a Vida Se Fez de Louca
12 - Super Homem Plus
13 - Carnaval Inesquecível Na Cidade Alta
14 - Estela (A Fumaça do Pagé Miti Subitxxy)
Enquanto eu morei em Roma ouvi muito esse cara, sempre achei as musicas bem fritas. Rino Gaetano, o cara que cantava com a voz rouca de balada. Nascido na Calábria, uma das regiões mais pobres da Italia, mudou-se pra Roma aos 9 anos, onde morreu com 30 anos de um jeito que me deixou muito curioso por saber mais sobre seu trabalho: após bater sua Volvo contra um caminhão na Via Nomentana, Rino foi levado a 5 hospitais – todos o recusaram – e morreu na ambulância a caminho do 6°.
Na Itália é assim que morre um cara doidão, que fazia letras e arranjos debochando com as personalidades e políticos italianos na década de 70, ainda em tempos de chumbo.
Depois de ouvir a discografia completa do rapaz, com álbuns produzidos entre 74 e 90, escolhi a coletanea “Gianna e le altre”, de 1990 pra colocar aqui. Talvez não seja o melhor, eu mesmo prefiro “Nuntireggaepiù”, de 74, mas pra quem conhecer antes acho esse mais indicado por ter quase todas as baladas mais fodas.
Dentre as canções se destacam a belíssima “Gianna”, que o levou a cantar no festival de San Remo, onde levou o terceiro lugar. Imperdíveis também são a genial “Nuntireggae più”, “Ma il cielo è sempre più blu”, “Spendi Spandi Effendi”, "Ahi Maria", “E cantava le canzioni” e “E Berta filava”, esta ultima considerada pelo proprio Rino como “um rascunho de Gianna”, aquela que o levou a Sanremo.
Mais um FUNDAMENTO da guitarreira distorcida que antecipa o tal indie antes do termo existir e também aproveita para criar o termo SHOEGAZE, é esse disco de estreia do produto das mentes insanas dos irmãos escoceses Jim e William Reid. Nesse disco o parceiro BOBBY GILLESPIE, que formaria o Primal Scream, faz a bateria, e a produção é do compatriota escocês e outro que foi fundamental no tal indie, Alan McGee, do selo Creation. Mas é a guitarreira sem noção e caprichada no feedback e na microfonia dos irmãos que dá o tom, e foi revolucionária na época. Só que o mais legal, na minha opinião, é que por detrás da muralha de feedback tem melodias mó bonitinhas, como a linda Just Like Honey, que foi redescoberta por Sofia Coppola no filme Encntros e Desencontros, e abre os trabalhos. O resto segue a toada, com pequenas pérolas como Taste of Cindy, Never Understeand e You Trip Me Up.
The Jesus and Mary Chain - Psychocandy (1985) 1. Just Like Honey 2. The Living End 3. Taste the Floor 4. The Hardest Walk 5. Cut Dead 6. In a Hole 7. Taste of Cindy 8. Never Understand 9. Inside Me 10. Sowing Seeds 11. My Little Underground 12. You Trip Me Up 13. Something's Wrong 14. It's So Hard
O mestre Allan Roger, fuçador exímio, descobriu o inacreditável blog ORGY IN RHYTHM. Damn, quanta sonzera tem lá. Até vou adicionar ali nos links ao lado esquerdo. E quente de o Allan falou foi esse SADAO WATANABE e seu quarteto no festival de Montreux, ripado do vinil em 320kbps para vossa degustação. O som? Bem, é jazz japonês dos anos 70. Coisa finíssima.
Sim, amigo, é oficial, o grande Dinosaur Jr. vem pro Brasil, e os ingressos já estão a venda, e suspeito que vão acabar rapidinho. Eu tentarei ir. Se vocês não conseguirem, fica aqui o melhor disco dos caras, de 1987. Alegria pura com guitarreira distorcida em cima dos vocais dos vocais do gênio J. Mascis, responsável tanto pela guitarreira quanto pelos vocais. Esse foi o disco que colocou a guitarra de volta ao centro das atenções do rock and roll, misturando hardcore, pirações noise a la sonic youth e hard rock melódico. Tudo o que veio depois (pixies, nirvana, smashing pumpkins, pearl jam, etc) deve muito ao grupo de Mascis, Low Barlow e Murph
(aqui no Fliperama Zen tem um texto bem mais legal sobre a história do Dinosaur Jr)
e aqui o clipe mó legal de Over It, do disco novo deles, mostrando que os caras ainda estão em forma
e o fino da bossa, o You're Living All Over Me em versão remasterizada, tinindo
Dinosaur Jr. - You're Living All Over Me (1987)
01 - Little Furry Things
02 - Kracked
03 - Sludgefeast
04 - The Lung
05 - Raisans
06 - Tarpit
07 - In a Jar
08 - Lose
09 - Poledo
10 - Just Like Heaven
Bom, mas vamos manter essa pocilga funcionando! Acho que esse disco aqui ninguém vai reclamar.. e trata-se de um dos grandes discos de jazz da história. Sonzera séria e fina, elegância total, com o mestre Thelonious Monk no piano, Sony Rolins no sax tenor, Paul Chambers no baixo, Max Roach na bateria... O som é bebop na veia, transpirando frescor e vitalidade.
para petiscar, um documentariozinho de dez minutos com depoimentos do produtor do disco, Orrin Keepnews:
e agora, o prato principal:
Thelonious Monk - Brilliant Corners (1957)
01 - Brilliant Corners
02 - Ba-Lue-Bolivar Ba-Lues-Are
03 - Pannonica
04 - I Surrender, Dear
05 - Bemsha Song
é, tiraram mais um post deste ouveae por infringir o Digital Millenium Copyright Act (DMCA). Bom, eu devia esperar que isso fosse acontecer mais cedo ou mais tarde. Desta vez a vítima foi o DJ Shadow. Vou tentar colocar só as historinhas deste e do disco do Cure, sem link, sem foto da capa, vamo ver o que acontece. Mas o fato é que queria postar algo novo aqui hoje, mas broxei. Azeeeeeeite!
Tava faltando por aqui alguma coisa do Soul Brother Number One, The Hardest Working Man in Show Business, Mr. Dynamite, the Godfather of Soul, o mestre dos mestres JAMES BROWN. E este show gravado em 24 de outubro de 1962, em plena crise dos mísseis em Cuba, é um registro histórico de mr. Brown. Em 1962 Brown ainda estava relativamente no começo da carreira, mas já começava a enfileirar sucessos entre o público negro. Jovem e repleto da energia que o tornou lendário, respaldado pela não menos lendária banda de apoio The Famous Flames, ele subiu ao palco do famoso Apollo Theater, meca da música negra encravada em pleno Harlem, conhecido pela platéia mais do que exigente. Seus maiores hits, como 'I Got You (I Feel Good)', 'Papa's Got a Brand new Bag' e 'Sex Machine' ainda não tinham sido compostos, mas a coleção de músicas do show é recheada de pedradas, que vão de pepitas do soul mela cueca como 'Lost Someone' e 'Please Please Please' a porradas como 'Think' e 'Night Train', levando o público (principalmente o feminino), ao delírio. A lenda de James Brown começou naquela noite no Harlem. E pensar que o dono da gravadora de Brown não queria pagar pela gravação do espetáculo, que Mr. Dynamite pagou do próprio bolso.. Sonzera obrigatória para quem quer entender a música negra americana na segunda metade do século 20.
James Brown - Live at the Apollo (1963)
01 - Introduction by Fats Gonder/Opening Fanfarre
02 - I'll Go Crazy
03 - Try Me
04 - Think
05 - I Don't Mind
06 - Lost Someone
07 - Medley: Please, Please, Please/You've Got the Power/I Found Someone
08 - Night Train
09 - Think
10 - Medley: I Found Someone/Why Do You Do Me/I Want You So Bad
11 - Lost Someone
12 - I'll Go Crazy
Mais uma rapidinha, esse disco de 2001 do Groove Collective, como o próprio nome já diz coletivo de bambas do Acid Jazz formado no início dos ano 90 pelo flautista Richard Worth. No começo mais focado na mistura do acid jazz com o hip hop, com o passar do tempo o som do Groove Collective foi se transformando com a entrada de diversos feras do jazz moderno. Este registro de 2001 é carregado de sons viajantes, grooves hipnóticos, linhas de baixo funkeadas e uma insuspeita pegada latina. Ideal para ouvir diboa em casa relaxando no sofá, bem acompanhado.
Groove Collective - It's All in your Mind (2001)
01: Time Pilot
02. Ransome
03. Dance With You
04. Earth To Earth
05. You're Stepping On My Daisy
06. Stargazer (Feat. Chucho Valdes)
07. Winner
08. In Your Mind
09. Ocean Floor
10. Priye
11. Skye
12. Comparsa Tunina
13. Demon Chaser
Sem muita falação, deixo hoje para vocês essa bela coletânea de sonzeras funk, deep funk, jazz-funk, funk pra ninguém botar defeito, que embalaram as trilhas sonoras de filmes blaxploitation nos anos 70. Só mestres do quilate de Quincy Jones, Herbie Hancock, Jimmy Smith, Ray Barreto, Lalo Schiffrin... Além de clássicos como os temas de Missão Impossível e do James Bond, duas das músicas são facilmente reconhecíveis. "Money Runner", de Quincy, virou trilha de abertura do "Hermes e Renato", e "Bronging Down the Birds", de Herbie, foi sampleada pelo Deee Lite no clássico das baladas "Groove is in the Heart". Groove is in the heart indeed!
VA – Funk on Film: 70′s Screen Scene Funk
1. Johnny Pate – You’re Starting Too Fast 2. Dennis Coffey – Theme From Black Belt Jones 3. Quincy Jones – Money Runner 4. Herbie Hancock – Bringing Down the Birds 5. The Young Lovers – Barbarella 6. Henry Mancini – Streets of San Francisco 7. Jimmy Smith – Mission Impossible 8. Ray Barretto – Senor 007: James Bond Theme 9. The Nite-Liters – Buck and the Preacher 10. Quincy Jones – They Call Me Mr. Tibbs 11. Johnny Pate – Shaft in Africa 12. Quincy Jones – Fat Poppadaddy 13. J.J. Johnson – Willie Escapes 14. Edwin Starr – Easin’ In 15. [unknown] – Brents Interrogation (vocal skit) 16. Lalo Schifrin – Ape Shuffle 17. Roy Ayers – Aragon 18. Penny Goodwin – Too Soon You’re Old 19. [unknown] – Williams and Roper (vocal skit)
"Gosto de fazer samba de dor de cotovelo, falando de mulher, de amor, de Deus, porque é isso que acho importante e acaba se tornando uma coisa importante"
O Blues e o Samba são duas manifestações distintas dos ritmos africanos que foram levados pelos escravos para as Américas. O blues se originou entre os negros trabalhadores agrícolas do sul dos Estados Unidos, em ambiente rural, mas só tomou sua forma final nos centros urbanos, como Nova Orleans, Memphis e Chicago. No Brasil deu-se o mesmo, e o samba como conhecemos se originou em Salvador e no Rio de Janeiro. Ambos também tem em comum o amálgama dos ritmos africanos com as melodias da música européia. E também compartilham a temática das músicas: amores perdidos, mulheres, Deus, saudades e a crônica da vida nas camadas mais baixas da sociedade. Mas o ritmo que surgiu nos trópicos do hemisfério sul é diferente do originário das áreas temperadas do hemisfério norte. O samba, por exemplo, é muito mais calcado na percursão dos tambores, pandeiros e tamborins, junto com o cavaquinho e o violão, este último o instrumento típico do blues.
E se existe um sambista que poderia muito bem ser um típico bluesman se seus antepassados tivessem sido levados para o delta do Mississipi e não para o Rio de Janeiro, este seria Angenor de Oliveira, o Cartola. Primeiro de oito filhos do casal Sebastião Joaquim de Oliveira e Aída Gomes de Oliveira, nasceu em 1908 no bairro do Catete, onde o pai era funcionário do Palácio Presidencial. Depois a família se mudou para Laranjeiras, e o menino Angenor (que deveria se chamar Agenor, mas foi vítima de erro do escrevente no cartório ao ser registrado), torcedor do Fluminense, o time do bairro, teve acesso à escola primária, algo raro para crianças negras na época. Também desde garoto ele brincava o carnaval nos ranchos e blocos de Laranjeiras. Mas a situação da família ficou difícil e em 1919 se mudaram para o Morro da Mangueira, na Zona Norte, onde então havia uma pequena favela, com menos de 50 barracos. Lá, o adolescente Angenor, já tendo largado da escola, se tornou protegido do grande sambista e malandro Carlos Cachaça. Foi trabalhar de pedreiro, e por usar um chapéu coco para proteger a cabeça do cimento, ganhou o apelido. Aos 17 anos, sua mãe morreu e os crescentes conflitos com o pai por causa de seu comportamento boêmio o levaram a sair de casa. Começou a viver na vadiagem, dormindo em vagões de trem, perambulando pela noite e frequentando prostíbulos, onde adquiriu uma variedade de doenças venéreas. Essa vida de malandragem o levou a se enfraquecer, e Cartola foi "adotado", por Deolinda, uma vizinha mais velha, com quem acabou se casando. Em 1925 criou, com Carlos Cachaça e outros malandros do morro, o Bloco dos Arengueiros, que três anos depois se tornou a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Na década de 30 seus sambas começaram a fazer sucesso na voz de famosos cantores da época, como Mário Reis e Francisco Alves. Conheceu e ficou amigo de Noel Rosa, e juntos compuseram "Tenho um novo amor", gravada por Carmen Miranda. Vários de seus sambas foram levados pela Mangueira para os desfiles de Carnaval.
Em 1940, Cartola foi convidado pelo Maestro Heitor Villa-Lobos, juntamente com outros músicos como Donga, Jararaca e Ratinho, João da Baiana e Pixinguinha, para uma gravação de músicas dos diversos ritmos afro-brasileiros, encomendados pelo maestro americano Leopold Stokowski. A histórica gravação está hoje preservada no Registro Nacional de Gravações da Biblioteca do Congresso Norte-Americano. Nesta época Cartola tinha um programa de rádio chamado "A voz do morro", onde apresentava novos sambistas. Mas pouco após estas consagrações, veio a reviravolta trágica digna de um blues. Em 1947 brigou com a nova diretoria da Mangueira e deixou o morro. Pouco após, sua amada Deolinda morreu, e ele teve uma doença grave, provavelmente Meningite. Cartola sumiu do mapa, e muitos achavam que estivesse morto. Passou assim as próximas duas décadas, trabalhando em subempregos e entregue à bebida. Foi "salvo" pela segunda mulher da sua vida, Eusébia do Nascimento, a dona Zica, que o levou para morar com ela na Mangueira.
Mas o sambista Cartola só foi redescoberto em 1957, quando trabalhava de vigia e lavador de carros em um prédio de Ipanema. Foi reconhecido pelo jornalista Sérgio Porto, mais conhecido pela alcunha de Stanislaw Ponte Preta. Porto resolveu ajudar o sambista, em uma série de artigos divulgou que ele estava vivo, e o levou a fazer apresentações na rádio e em show. Na década de 60, com a ajuda de admiradores da Zona Sul carioca, Cartola e Dona Zica abriram o lendário bar Zicartola, no centro do Rio, que se tornou um dos principais locais de encontro dos sambistas de raiz com os jovens de classe média que naquela época desenvolviam a Bossa Nova. Apesar da programação musical impecável e os famosos quitutes preparados por dona Zica, o bar era mal administrado e fechou após apenas dois anos. Mas foi o suficiente para que, com parceiros como Élton Medeiros e o velho companheiro Carlos Cachaça, Cartola compusesse de improviso, no bar, duarante as noitadas, belíssimos clássicos como "O sol nascerá" e "Alvorada". A primeira fez parte do repertório do histórico concerto "Opinião", organizado por Nara Leão, que o tornou definitivamente conhecido pelo público mais jovem, de classe média.
Foi apenas em 1974, aos 66 anos, que Cartola gravou seu primeiro LP, graças aos esforços do pesquisador musical Marcus Pereira. Respaldado por excelentes músicos, como o violonista e arranjador Dino Sete Cordas, Cartola gravou uma impressionante coleção de algumas das mais belas músicas da história da música brasileira. Com letras de impecável português, equilibrando magistralmente elegância e emoção, tratando dos temas citados no começo deste post, ou seja, muita dor de cotovelo, corações partidos e uma "tristeza alegre", traduzida em músicas como "Tive Sim"(feita para dona Zica), "Corra e olhe o céu", "Quem me vê sorrindo", "Disfarça e chora", "Acontece", "alvorada" e "O Sol nascerá". Mesmo músicas aparentemente mais alegres, como as duas últimas, tinham um subtexto de tristeza comparáveis aos mais tristes blues. Em 1976, saiu seu segundo LP, que trazia outros clássicos como "As rosas não falam", "Senhora Tentação", a tristíssima "O mundo é um moinho" e a maravilhosa "Preciso de me encontrar", essa composta por Candeia. Cartola morreu em 1980, mas suas músicas viverão para sempre. Enquanto houver um coração partido, suas letras e suas melodias tristes farão sentido.
Cartola - Cartola (1974)
1 - Disfarça E Chora (Cartola - Dalmo Casteli) 2 - Sim (Cartola - Oswaldo Martins) 3 - Corra E Olhe O Céu (Cartola - Dalmo Casteli) 4 - Acontece (Cartola) 5 - Tive Sim (Cartola) 6 - O Sol Nascerá (Cartola - Elton de Medeiros) 7 - Alvorada (Cartola - Carlos Cachaça - Hermínio B. de Carvalho) 8 - Festa Da Vinda (Cartola - Nuno Veloso) 9 - Quem Me Vê Sorrindo (Cartola - Carlos Cachaça) 10 - Amor Proibido (Cartola) 11 - Ordenes E Farei (Cartola - Aluizio) 12 - Alegria (Cartola)
01 - O Mundo é um Moínho
02 - Minha
03 - Sala de Recepção
04 - Não Posso Viver Sem Ela
05 - Preciso Me Encontrar
06 - Peito Vazio
07 - Aconteceu
08 - As Rosas Não Falam
09 - Sei Chorar
10 - Ensaboa Mulata
11 - Senhora Tentação
12 - Cordas de Aço
A Lígia deu a dica e eu coloco aqui pra manter este Ouveaê vivo em tempo de Copa do Mundo. Recém-chegado do exílio em Londres e com o repertório de 'Expresso 2222' na ponta da língua, Gil foi convidado pelos estudantes da USP para fazer um show de protesto pela tortura e morte do estudante de Geologia Alexandre Vannuchi Leme pela ditadura militar. Durante mais de três horas, ele cantou e conversou com a estudantada, só na baase da voz e o violão. durante as músicas, o silêncio da platéia é total. Quando Gil fala, ouvem-se risadas e aplausos. A qualidade da gravação, feita nos bons e velhos gravadores de rolo, é perfeita. Sintam-se transportados àquela época
Gilberto Gil - Ao Vivo na Escola Politécnica da USP (1973)
gil fala
chicletes com banana
minha nêga na janela
senhor delegado
eu quero um samba
meio de campo
cálice
gil fala
o sonho acabou
ladeira da preguiça
expresso 2222
procissão
gil fala
domingo no parque
gil fala
umeboshi
objeto sim objeto não
gil fala
ele e eu
noite morena
cidade de salvador
iansã
eu só quero um xodó
edith cooper
back in bahia
filhos de gandhi
eu preciso aprender a só ser
cálice (final)
Para continuar a toada de trilhas sonoras, aí vai mais uma clássica. Outro dia vi esse filme Ascenseur pour l'échafaud na casa da namorada. Obra de estreia do francês Louis Malle, trata-se de uma película na pegada film noir sobre um cara que tem um caso com a mulher do chefe e mata o patrão. Mas no meio da fuga tinha um elevador, e aí segue uma história cheia de reviravoltas. Bom filme, mas o que o tornou um clássico é a trilha sonora encomendada a ninguém menos que Miles Davis, que um ano antes de lançar 'Kind of Blue' já se aventurava pelas harmonias modais. O trumpete de Miles, respaldado por músicos franceses, cria o clima nos momentos mais acelerados e mais contidos do filme. Sonzeraça, e o filme é recomendadíssimo também.
Neste sábado (29 de maio de 2010), morreu, por complicações de um câncer de próstata, o ator e cineasta Dennis Hopper, que embora os mais jovens conheçam mais por papéis de vilão em filmes como Velocidade Máxima e Waterworld, um dia foi o símbolo da geração que, guiada pelos ideais hippies de sexo, drogas e rock and roll, revolucionou o cinema norte-americano a partir do final dos anos 60. (ufa, que frase longa).
O ano era 1969, e a geração hippie já havia revolucionado a política, os costumes, a música e as artes plásticas, mas em Hollywood eles ainda eram vistos como chapados abobados. Hopper, junto com os amigos Peter Fonda e Jack Nicholson, ajudados pelo mago dos filmes B Roger Corman, estavam tentando mudar isso. Após terem feito em parceria os psicodélicos, mas ainda pouco transgressores The Trip, Psych-out e Head, o trio se juntou para contar a história de dois motoqueiros hippies que, após se derem bem com uma venda de cocaína, pegam suas Harleys depenadas e caem na estrada, em busca do sonho de liberdade e do mito norte-americano que a liberdade se encontra pegando a estrada numa moto possante. Hopper dirigiu o filme e co-estrela, como Billy, ao lado de Peter Fonda, o Capitain America, e Jack Nicholson, o advogado alcoólatra e quadrado que eles encontram no caminho e pega carona na viagem, até o antológico e tristíssimo final.
Pois bem, quando Billy e Capitain America pegam a estrada uma música começa a tocar. A porrada guitarreira rock and roll do Steppenwolf que virou um dos maiores clássicos do rock: Born to be Wild. O restante da trilha sonora é uma coleção de pedradas rock que evocam o clima do filme, que mudou para sempre a indústria do cinema ao se tornar um grande sucesso de público e crítica rodado no underground, fora dos grandes estúdios. Diz a lenda que Hopper havia pensado em encomendar uma trilha original para o Crosby Stills Nash and Young, mas enquanto filmava, se deu conta que as músicas que ele ouvia na época tinham tudo a ver com o clima do filme. Além do Steppenwolf, que também colabora com a viajante e sensacional 'The Pusher', músicas de Jimmi Hendrix Experience, The Byrds e outras menos conhecidas mas também ótimas bandas, como Fraternity of Man, Electric Prunes e Holy Modal Rounders se encarregam de montar o pano de fundo musical para a aventura dos motoqueiros hippies.
Como é muito bem explicado no livro Easy Riders, Raging Bulls - Como a geração sexo drogas e rock and roll salvou Hollywood, de Peter Biskind, Easy Rider - Sem Destino foi o início da Hollywood que conhecemos hoje, abrindo caminho para Martin Scorcese e Francis Ford Coppola, a face mais séria da geração, e também para George Lucas e Steven Spielberg, que criaram o moderno blockbuster. Hopper fez personagens antológicos em Apocalypse Now, o épico de Coppola sobre a Guerra do Vietnã, e em Blue Velvet, obra-prima de David Lynch. Considerado a figura mais maluca de Hollywood, ele largou as drogas e o goró em meados dos anos 80 e apareceu em mais dezenas de filmes, alguns horríveis, dizendo que tinha uma política de nunca recusar um papel.
como aqui é um blog de música, fica a homenagem ao grande Dennis Hopper em forma da trilha original de Easy Rider
Easy Rider Orignal Soundtrack (1969)
01. The Pusher - Steppenwolf
02. Born To Be Wild - Steppenwolf
03. The Weight - Smith
04. Wasn't Born To Follow - The Byrds
05. If You Want To Be A Bird - The Holy Modal Rounders
06. Don't Bogart Me (AKA Don't Bogart That Joint) - Fraternity Of Man
07. If Six Was Nine - The Jimi Hendrix Experience
08. Kyrie Eleison/Mardi Gras (When The Saints) - The Electric Prunes
09. It's Alright Ma (I'm Only Bleeding) - Roger McGuinn
10. Ballad Of Easy Rider - Roger McGuinn
Vocês conhecem Arthur Verocai? Eu também não conhecia até agora há pouco, quando a Chebel mandou no Twitter um link de uma mixtape que o DJ Nuts, exímio conhecedor da obra de Verocai (e da música brasileira em geral), fez da figura após a série de concertos Timeless, que homenageou, juntamente com o etíope Mulatu Astatke e o finado rapper J. Dilla, essa figura pouco conhecida mas importantíssima na História da Música Brasileira, .
Nascido no Rio de Janeiro em 1945, Verocai era portanto um moleque de 13 anos quando a Bossa Nova varreu o mapa da música brasileira em 1958, com o disco "Chega de Saudade", de João Gilberto. Estudou música com gente como Roberto Menescal, e foi um dos principais proponentes do assim chamado samba-jazz. Arranjou discos como o clássico Carlos, Erasmo, do Tremendão, e de uma galera do quilate de Jorge Ben, Gal Costa, Tim Maia. Luiz Melodia e Leny Andrade, entre outros.
Em 1972 lançou o auto intitulado álbum, uma seminal junção da tropicália e do samba jazz com o soul e o funk americanos. Disco raríssimo, foi descoberto por rappers gringos gerou samples para raps de Ludacris, MF Doom e Lil Brother, entre outros. Relançado em vinil pelo selo gringo Luv N' Haight, fez com que o recluso carioca fosse a Los Angeles executar o disco na íntegra diante duma plateia extasiada. Nuts, que tocou com Madlib na noite anterior, se encarregou de fazer uma mixtape que junta músicas do mitológico disco com sons de outros artistas que foram arranjados por Verocai.
Então aí vai, primeiramente, o disco Arthur Verocai, de 1972, com link surrupiado do Original Pinheiros Style
Arthur Verocai - Arthur Verocai (1972)
.
1. Caboclo
2. Pelas Sombras
3. Sylvia
4. Presente Grego
5. Dedicado a Ela
6. Seriado
7. Na Boca do Sol
8. Velho Parente
9. O Mapa
10. Karina [Domingo no Grajau]
Mais um sintoma da volta aos nineties foi a anunciada volta de uma das bandas mais representativas do rock aletrnativo norte-americano dos anos 90, o Pavement. Formado em 1989 pelos amigos de infância Stephen Malkmus e Scott Kannberg, que dividem os vocais e a guitarra, o Pavement marcou época com sua sonoridade lo-fi, de músicas com estrutura 'fraturada', distorções repentinas, muito ruído branco e letras malucas e lacônicas. Em 1992 eles lançaram o clássico Slanted and Enchanted, com o baixista Mark Ibold e o baterista frito Gary Young, que deixou a banda um ano depois. Em 1994, com Steve West na bateria, eles lançaram o também maravilhoso Crooked Rain, Crooked Rain, que trazia o hit "Cut Your Hair". Isso não foi suficiente para levá-los ao mainstream, e o Pavement passou o restante da década militando no underground americano, e seu culto chegou à Europa e lugares distantes como o Brasil. Eles ainda lançaram mais três álbuns: Wowee Zowee, em 1995, Brighten the Corners, em 1997, e Terror Twillight, em 1999, ano em que a banda acabou, de maneira abrupta. Agora, 11 anos depois, eles estão de volta, e o que seriam apenas dois shows beneficentes já viraram uma turnê mundial, com rumores de shows no Brasil, inclusive abrindo para sir Paul McCartney. Para aquecer, lá vão os dois primeiros e essenciais álbuns dessa banda tão querida
Pavement - Slanted and Enchanted (1992)
O primeiro álbum do Pavement começa com a porrada "Summer Babe" e segue com outras pedradas, como Trigger Cut" e a fantástica "Loretta's Scars". Foi o disco que mudou a face do rock alternativo dos EUA ao abrir caminho para as experimentações lo-fi, com muita distorção e ruído por cima de melodias fofas e letras surreais.
01 - Summer Babe
02 - Trigger Cut
03 - No Life Singed Her
04 - In the Mouth a Desert
05 - Conduit for Sale!
06 - Zurich is Stained
07 - Chesley's Little Wrists
08 - Loretta's Scars
09 - Here
10 - Two States
11 - Perfume V
12 - Fame Throwa
13 - Jackals, False Grails: The Lonesome Era
14 - Our Singer
Dois anos depois, com um baterista menos frito, o Pavement sobreviveu bem à "maldição do segundo disco". Menos experimental e mais pop, mas nem tanto, Crooked Rain, Crooked Rain trazia o hit "Cut Your Hair", que ganhou o videoclipe sensacional.
01 - Silence Kit
02 - Elevate Me Later
03 - Stop Breathin’
04 - Cut Your Hair
05 - Newark Wilder
06 - Unfair
07 - Gold Soundz
08 - 5-4=Unity
09 - Range Life
10 - Heaven Is a Truck
11 - Hit the Plane Down
12 - Fillmore Jive
Não estava conseguindo pensar em um disco pra por aqui, mas ontem na madruga voltando pra casa após a cerca frango no carro do Erick, tocou na Mitsubishi FM a sensacional "Cocaine Blues", do grande Johnny Cash, e percebi que estava faltando aqui o discaço do homem gravado em 1968 na prisão californiana de Folsom, um dos grandes clássicos do badass country. Lembrei também que outro grande, o blueseiro BB King, também havia gravado um disco na cadeia, nesse caso na Cook County Jail, perto de Chicago. Portanto aí vai uma dobradinha de discos clássicos gravados ao vivo perante uma plateia formada por assassinos, assaltantes, estelionatários, traficantes, estupradores... enfim, tudo gente fina.
Johnny Cash - At Folsom Prison (1968)
Muitos (eu inclusive) torcem o nariz para esse estilo, mas muitos (eu inclusive), dizem: "eu não gosto de country, mas johnny cash detona!". Pois é, o cara era fodão. O grande lance de Cash foi juntar as melodias country à rebeldia do rock and roll, afinal ele foi uma das crias da Sun Records, de Memphis, que lançou também nomes como Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e um certo Elvis Presley. Em 1968 Johnny Cash já era um astro da música country americana, tinha se casado com a ex-cantora mirim June Carter e tentava se livrar do vício em remédios (tudo bem retratado na cinebiografia Johhny e June). Para se purificar, o homem agendou essa apresentação na infame prisão californiana. No setlist, só música sobre bandidagem, morte, cadeia, drogas, redenção, e claro, mulher. Ainda na Sun Records, o primeiro sucesso lançado por Cash foi "Folsom Prison Blues", que, após a clássica introdução "Hello, I'm Johnny Cash", abre a apresentação para delírio da bandidagem. Seguem pepitas como a já citada "Cocaine Blues" ("i took a shot of cocaine and I shot my woman down".. badass!), "25 minutes to go" (que narra os últimos momentos de um homem no corredor da morte), "I got stripes", "Orange blossom special" e "Jackson", esta em dueto com a esposa June. A energia da platéia criminosa e a maestria de Cash em domar essa energia, que poderia fácil virar uma rebelião, dão o tom do disco.
Johnny Cash - At Folsom Prison (1968)
01 - Folsom Prison Blues 02 - Busted 03 - Dark as a Dungeon 04 - I Still Miss Someone 05 - Cocaine Blues 06 - 25 Minutes to Go 07 - Orange Blossom Special 08 - The Long Black Veil 09 - Send a Picture of Mother 10 - The Wall 11 - Dirty Old Egg-Suckin’ Dog 12 - Flushed from the Bathroom of Your Heart 13 - Joe Bean 14 - Jackson 15 - Give My Love to Rose 16 - I Got Stripes 17 - The Legend of John Henry’s Hammer 18 - Green, Green Grass of Home 19 - Greystone Chapel
Esse eu conhecia do vinil que o Caco tinha e hoje se encontra na Manga Rosa. Vale ler o texto da contracapa, escrito por Geoffrey Harding, um dos presos que assistiu a apresentação. A cadeia próxima a Chicago era uma das mais violentas dos EUA quando, em 1968, um novo diretor, o psiquiatra negro Winston E. Moore, chegou e mudou tudo. Pra começar, confiscou três geladeiras de celas ocupadas por mafiosos, além do tradicional confisco de armas e drogas. Claro que os presos não gostaram muito, então para acalmar os ânimos ele promoveu esse show do Rei do Blues no pátio da prisão. E a química entre o bluesman e os presos foi total, ambas as partes parecem muito felizes com o show, que começa com a detonante "Every day I have the blues", seguida por "How blue can you get" e atinge o ápice com uma das melhores versões do clássico "The thrill is gone". Sonzeraça!
B.B. King - Live at Cook County Jail (1971)
01 - Introductions
02 - Every day I have the blues
03 - How blue can you get?
04 - Worry, Worry
05 - Medley: 3 o'clock blues/Darlin' you know I love you
Fania All Stars é um ensemble de músicos criado pela Fania Records, tradicionalíssima gravadora de salsa que reuniu por décadas os melhores salseros do mundo. A banda era formada pelo lendário cantor porto-riquenho Héctor Lavoe (“El Cantante de los Cantantes”), o trombonista Willie Colón, o percursionista e maestro Tito Puente, a cantora cubana Celia Cruz, Rubén Blades (o poeta da salsa), Cheo Feliciano, Bobby Vantentín, o guitarrista mexicano Jorge Santana (irmão menor da fera) entre outros, comandados pelo maestro dominicano Johnny Pacheco. A maioria dos músicos da banda fizeram sucesso depois com carreiras solo e ganharam vários Grammys de música latina.
O grupo foi criado nos anos 60 e teve seu auge nos anos 70. Além de terem revolucionado a salsa (um estilo musical recente, que só começou a ser chamado assim na época da Fania), os músicos da banda formavam uma turminha da pesada. Uma das canções chama-se "Lluvia y nieve", uma alusão ao combustível das baladas que eles faziam - respectivamente, álcool e cocaína. Héctor Lavoe foi um dos que se deram mal nessa história: viciado em heroína, entrou em depressão, tentou se matar, ficou paraplégico e pegou AIDS. Saravá.
A crème de la crème da banda é sem dúvida a performance ao vivo. Eles lotaram lotaram locais como o Cheetah Lounge e o Yankee Stadium em Nova York, além de mega shows no Teatro Carlos Marx em Cuba e em Porto Rico. Também participaram do festival de música de Kinshasha, no Zaire, que antecedeu à lendária luta de Muhammed Ali e George Foreman (tudo devidamente documentado no filme "Soulpower").
Aos não iniciados na salsa, recomenda-se beliscar este vídeo, gravado no Zaire, como aperitivo...
Aos que gostaram e querem mais, aí vai o álbum gravado ao vivo durante o show no Yankee Stadium, very very good! Ou como dizem os próprios, "echale semilla a la maraca pa' que suene"!
A banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes, a Ave Sangria era conhecida como os Stones do Nordeste.
Primeiramente chamada de Tamarineira Village, a banda faz um som psicodélico que me lembra muito o Secos & Molhados, principalmente pelas variaçoes entre as musicas, que partem de um sambinha "suspeito" (Seu Waldir) e culminam em fritaçoes como Tres Margaridas, com uso de vocais androginos, oscilaçoes de frequencia e guitarra elétrica que batem forte na cabeça.
Pra se ter uma idéia dos tipos que compunham a banda, cito aqui um "causo" que ganhou fama, quando Rafles, um dos integrantes do Ave Sangria, enviou pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.
Foi o mesmo figura quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo, logo depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova.
O disco em questao viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: "Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampeão", relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração da banda. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.
Mesmo pouco divulgado, o disco conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns Estados do Nordeste. Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. "Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não... Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim..." Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop. Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. No fim das contas, o Departamento de Censura da Polícia Federal acabou proibindo o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional.
O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. Nao por coincidencia, como um dos fatores que levaram ao fim os Novos Baianos, os caras tinham a grana curta, alguns ja com filhos, e nao conseguiam levar a vida como banda, que faz o seu ultimo show em dezembro de 74, mas que ainda hoje é ouvida e eu tenho o prazer de lhes apresentar.
Outro discasso apresentado pelo mestre Brunoise, essa pepita de Rashaan Roland Kirk é descrito por alguns como o "Punk-jazz" da época. O saxofonista Roland Kirk, que depois acrescentou o Rashaan ao nome, é uma das figuras mais malucas da história do jazz. Ficou cego aos dois anos de idade, e como muitos outros deficientes visuais, desenvolveu extremo talento musical. Uma de suas marcas registradas é tocar dois saxofones ao mesmo tempo (!), além de criar seus próprios instrumentos. Mas além das excentricidades, Kirk é conhecido pelo completo domínio da técnica e pela inesgotável capacidade de improvisação no instrumento. Neste disco de 1965 ele entrega uma performance altamente energética, respaldado por um quarteto que quebra tudo na parte rítmica, graças em grande parte ao baterista Elvin Jones. Os solos altamente improvisados de Kirk se encarregam de acabar de quebrar tudo. Portanto, em uma palavra,QUEBRADEIRA!
Rashaan Roland Kirk - Rip, Rig and Panic (1965)
1. No Tonic Press
2. Once in a While
3. From Bechet, Byas, And Fats
4. Mystical Dreams
5. Rip, Rig and Panic
6. Black Diamonds
7. Slippery, Hippery, Flippery
Se você prestar atenção na música que dá nome ao disco vai sentir a mistura entre as imagens e o som propostas pelo trio francês: cada nome que é cantado estimula uma reação no ouvinte, mesmo que seja algo distante de nossas realidades. O disco continua assim, ao vivo, fazendo uma bela cama para o final apoteótico e arrepiante com Requiem.
Ez3kiel - Versus Tour (2004)
1- Versus
2- How do you sleep
3- Phantom Land
4- Via Live
5- Handle
6- Barb4ry
7- Strange Days
8- Lac des Signes
9- 3 Rue Monplaisir
10- Sûrement
11- Jah´s Hardcore
12- Requiem
A segunda-feira nublada, fria e garoenta em São Paulo pede um disco com esse clima melancólico e ao mesmo tempo etéreo. Em 1969 Miles Davis já tinha revolucionado o jazz mais de uma vez. Já havia ajudado a criar o Cool Jazz, o Jazz Modal, o Hard Bop e neste álbum cujo título diz tudo, ele começa o que talvez seja sua maior revolução: o Fusion.
1969 foi o ano de Woodstock, e Davis estava na época fascinado pela música de Jimi Hendrix. A influência de Hendrix seria mais sentida no disco seguinte, o também revolucionário Bitches Brew. Neste In a Silent Way, Miles se juntou com mais sete jovens músicos, se afastando do seu clássico quinteto que fez, entre outros, Kind of Blue.
Entre estes jovens músicos estavam os pianistas/tecladistas Herbie Hancock, Chick Correa e Joe Zawinul, o saxofonista Wayne Shorter e o guitarrista John McLaughlin. Das sessões gravados com esse octeto surgiu, através da parceria de Miles com o produtor Teo Macero, álbum. Os dois fizeram uma verdadeira alquimia de estúdio para gerar as duas longas sessões de improvisação quase telepática que geraram as duas faixas, um de cada lado do disco: Shhh/Peaceful e In a Silent Way/It's About That Time. É free-jazz, no sentido que se desprende quase totalmente da estrutura clássica do jazz, e é também o prenúncio do Fusion.
Se a música só faz sentido em contraste com o silêncio, esse disco silencioso é um dos sons mais transcendentes e etéreos (dá-lhe adjetivos chapados) já produzidos. Uma viagem que combina como poucas com o clima nublado.
Miles Davis - In a Silent Way (1969)
01 - Shhh/Peaceful
02 - In a Silent Way/It's About That Time