sexta-feira, 12 de março de 2010

Ave Sangria - Ave Sangria (1974)



A banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes, a Ave Sangria era conhecida como os Stones do Nordeste.

Primeiramente chamada de Tamarineira Village, a banda faz um som psicodélico que me lembra muito o Secos & Molhados, principalmente pelas variaçoes entre as musicas, que partem de um sambinha "suspeito" (Seu Waldir) e culminam em fritaçoes como Tres Margaridas, com uso de vocais androginos, oscilaçoes de frequencia e guitarra elétrica que batem forte na cabeça.

Pra se ter uma idéia dos tipos que compunham a banda, cito aqui um "causo" que ganhou fama, quando Rafles, um dos integrantes do Ave Sangria, enviou pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.

Foi o mesmo figura quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo, logo depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova.

O disco em questao viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: "Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampeão", relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração da banda. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.

Mesmo pouco divulgado, o disco conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns Estados do Nordeste. Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. "Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não... Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim..." Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop. Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. No fim das contas, o Departamento de Censura da Polícia Federal acabou proibindo o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional.

O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. Nao por coincidencia, como um dos fatores que levaram ao fim os Novos Baianos, os caras tinham a grana curta, alguns ja com filhos, e nao conseguiam levar a vida como banda, que faz o seu ultimo show em dezembro de 74, mas que ainda hoje é ouvida e eu tenho o prazer de lhes apresentar.

Faixas:


01. Dois Navegantes

02. Lá Fora

03. Três Margaridas

04. O Pirata

05. Momento na Praça

06. Cidade Grande

07. Seu Waldir

08. Hei! Man

09. Por Que?

10. Corpo em Chamas

11. Geórgia, a Carniceira

12. Sob o Sol de Satã


Ouveaê!

4 comentários:

  1. Como diria um amigo meu: só por deus mesmo.
    Ainda bem que temos espaço para uma multiplicidade de gostos pelo mundo afora...

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  2. Pois é, voce pode falar com propriedade, pois antes nao curtia RAP e hoje ouve o dia todo, por exemplo. Consegue se lembrar do que dizia ou pensava a respeito antes disso!?

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  3. Continuo achando lamentável o ave sangrenta aí. Nem com muito esforço desce...

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  4. tenta com uma breja, ou com uma coca...

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