segunda-feira, 11 de abril de 2011

Jazz japonês é coisa muito séria


No último mês, o Japão ocupou as manchetes pela tragédia do terremoto seguido de tsunami e desastre nuclear. Completando um mês do terremoto, farei uma homenagem ao bravo povo nipônico através de um assunto inusitado: a insana cena jazz que se desenvolveu na terra do sol nascente entre as décadas de 60 e 70, exemplarmente garimpadas pelo sensacional blog ORGY IN RHYTHM (de quem respeitosamente surrupio os links.)

Após a Segunda Guerra Mundial, o trauma de Hiroshima e Nagasaki e a impensável rendição, o Japão se transformou. Ajudados financeiramente pelo ex-inimigo norte-americano, a economia do país explodiu a partir dos anos 50, e a influência cultural americana se disseminou na tradicional cultura nipônica. Entre as centenas de sub-culturas, algumas mutcholocas, que se desenvolveram no Japão do pós-guerra, o culto ao jazz é uma das mais duradouras. E, a partir dos anos 60, com o rock e o pop dominando a música americana, muitos jazzistas foram para a Europa e o Japão, onde o jazz ainda era consumido com ardor. E, com sua tão falada dedicação e disciplina, alguns japas começaram a tocar jazz e se tornaram mestres quase no mesmo nível dos americanos. O estilo desse jazz japa seventies é meio que uma continuação do que o jazz EUA fazia antes de cair no ostracismo no país natal: um POST HARD BOP MEETS AVANT GARDE, Free Jazz, Fusion, etc, e um subgênero que se tornou muito popular em terras nipônicas foi o jazz rock, releitura jazzy com tempero bossa-nova de sucessos do rock da época.

Um dos grandes jazzeiros japas é o saxofonista SADAO WATANABE, cujo Swiss Air, gravado ao vivo em Montreaux em  1975, eu já coloquei aqui. Então vamos explorar alguns outros, começando pelo monstruoso trompetista TERUMASA HINO.

Hino = Kikuchi Quintet (1968)


Aqui, nosso amiho Hino se junta ao pianista Massabuni Kikuchi para uma session de hard bop para levantar aquele proverbial defunto. Quebradeira! As quatro músicas compostas por Kikuchi soam como as obras primas modais do quinteto de Miles Davis nos anos 60. Arranjos, introduções e a sessão rítmica do quinteto formam a base perfeita para os vôos solo de Hino e Kikuchi. Coisa finíssima! Como de hábito nos posts do Orgy in Rhythm, o disco foi rpado do original em vinil na maior qualidade possível, 320 kbps. 

Faixas:
01 - Tender Passion
02 - Ideal Postrait
03 - Long Trip
04 - H.G. and Pretty


Mal Waldron - Terumasa Hino - Reminiscent Suite (1972)
Aqui é o americano Mal Waldron que assume o piano ao lado do nosso HINO, para duas longas e magistrais suites que ocupam cada uma um lado do vinil, que nunca foi relançado e é uma raridade, mesmo no Japão. O lado A, faixa-título, começa com a mão pesada (no melhor sentido possível) de Waldron debulhando o piano, e evolui com os impecáveis solos de Hino e do resto da banda com destaque para o sax tenor de Takao Uematsu, quebrando tudo e desconstruindo o tema até a música se tornar uma balada moody reflexiva, num total de 23 minutos de puro deleite sonoro. O lado B, Black Forest, começa com uam percussão from hell e flautinhas fritas, seguidas pelo piano de Waldron dando o tema, no compasso 6/8, até a entrada triunfal dos sopros de Hino e Uematsu, com solos inacreditavelmente belos. O resto da banda também aparece e faz seus solos nos mais de 18 minutos de sonzeira. Outra pepita!

Faixas:
01 - Reminiscent Suite
02 - Black Forest


Miyamoto, Naosuke Sextet (1973)


Mudando um pouco os personagem, temos outra pepita, esta perpretada pelo baixista Miyamoto e seu sexteto formado por Kunji Shigi (trompete e flugelhorn), Takashi Furya (sax alto), Takeshi Goto (sax soprano e tenor), Masayoshi Yaneda (piano) e Shoji Nakayama (bateria). Mais uma session do mais fino post hard bop modal. Todas as cinco faixas são matadoras, com destaque para a sublime homenagem a John Coltrane em 'One for Trane'. Já veterano da cena jazz japa, ativo desde o início dos anos 60, Miyamoto monstou esses sexteto com alguns bem jovens e outros mais velhos, mas todos excelentes, e deu ao mundo mais uma obra prima do jazz de olho puxado. 

Faixas: 
01 - Step Right Up to the Bottom
02 - One for Trane
03 - A New Shade of Blue
04 - Where Do They Go?
05 - Blues


Norio Maeda & Jiro Inagaki All-Stars - This is Jazz-Rock (1968)


Parte da série Ready-Made Jazz Rock da gravadora Columbia Japan, esse disco é um bom exemplo do tal jazz rock. Mais acessível do que as pirações post hard bop modais dos discos anteriores, This is Jazz Rock entrega o que promete: versões jazzy-bossa de clássicos do rock e do fusion. Quem lidera a brincadeira são Maeda (órgão Hammond) e Inagaki (sax tenor), acompanhados por trompete, guitarra, baixo, bateria e percussão. Versões de Watermelon Man (Herbie Hancock), House of the Rising Sun (The Animals), Day Tripper (Beatles) e Pata Pata (Mirian Makeba) proporcionam a alegria sonora. 

Faixas:
01 - Pata Pata
02 - Mercy, Mercy, Mercy 
03 - Day Tripper
04 - Snap Shot
05 - My Girl
06 - Boom Boom
07 - Watermelon Man
08 - Barock 
09 - House of the Rising Sun
10 - Go Go a Go Go
11 - Soil Finger
12 - Here, There and Everywhere


E por hoje é só! Arigatô, Sayonara!



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